COMO ENSINAR A APRENDER
Tendo em vista que o construtivismo é uma teoria de conhecimento, pode-se dizer que nela está implícita uma nova concepção de mundo e que traz uma nova forma de pensar todos os elementos que constituem o processo de ensinar e aprender. Essa concepção trouxe à escola uma mudança radical e tem contribuído, a partir dos anos 70 e 80 em diante, para se estabelecer uma prática mais significativa do ponto de vista da aprendizagem e do sujeito que aprende.
Tem-se aqui uma questão muito importante, embora essa concepção seja de difícil aplicabilidade por parte de alguns professores, pois depende de estudos e aprofundamento, de uma recriação metodológica, (não há enfoque de métodos nessa concepção teórica) é de necessidade premente abordar o construtivismo como concepção teórica da educação e a partir dela construir um método. Assim, estaremos contribuindo para esclarecimento e abrindo caminhos para as mudanças que todos querem, mas têm dificuldades de fazer no processo de alfabetização e de letramento.
Faz-se necessário esclarecer o pensamento de Piaget, como mentor dessa visão, embora já no século XVIII, Kant já elucidava algumas questões nesse sentido. A concepção piagetiana é construtivista, principalmente porque nos ajuda a pensar o conhecimento científico na perspectiva da criança, ou seja, daquela que aprende. O seu estudo é centrado em compreender como o aprendiz passa de um estado de menor conhecimento a outro de maior, o que está intimamente relacionado com o desenvolvimento pessoal do indivíduo, sua maturação e a aprendizagem.
Essa teoria veio despertar um grande interesse em educadores, estudiosos de Piaget e outros, do ponto de vista da linguagem como é o caso de Emília Ferreiro, que fez um estudo sobre o processo de alfabetização, com base nas descobertas de Piaget.
“ Os processos de construção sempre supõem reconstrução; no entanto, o que é que se constroi? É preciso reconstruir um saber construído em certo domínio para aplicá-lo a outro; há reconstrução de um saber construído previamente com respeito a um domínio específico para poder adquirir outros conhecimentos do mesmo domínio que, de algum modo, têm sido registrados sem poder ser compreendidos; também há reconstrução do conhecimento da língua oral que a criança tem para poder utilizá-lo no domínio da escrita. ( FERREIRO, 1993, p. 87)
Os fatores que mais chamaram a atenção nessa concepção teórica, podemos destacar, são:
• ela descreve as características do pensamento sensório-motor, pré-operatório, operatório concreto e formal, que Piaget nomina de Estágios de Desenvolvimento da Criança;
• faz uma análise sistemática da gênese das noções básicas do pensamento racional ( espaço, tempo e ...);
• aborda como ocorre a aprendizagem pela interação do sujeito com o meio;
• explica como se dá a assimilação e acomodação , conflito cognitivo e a construção propriamente dita;
Na teoria piagetiana, o professor é concebido como ser muito ativo, mediador do processo entre o sujeito e o conhecimento. Esse, tem que acompanhar, analisar, intermediar, intervir e ouvir como mediador da aprendizagem.
O aluno, por sua vez ( sujeito) é um ser ativo, antes de tudo, capaz de estabelecer relações de troca com o meio-objeto ( conhecimento, físico, pessoa...), numa situação de experiência significativa, uma vez que nessa interação entre sujeito e o meio que ele domina se processa a assimilação. Nesse sentido, cabe ao educador organizar situações problema que o desafiem a buscar e interagir nesse meio qualificado, para alcançar um nível mais elaborado na aprendizagem.
Desse ponto de vista, o estudante só “conhece a realidade atuando sobre ela”, por isso o professor mediador tem um papel fundamental, de provocar o intercâmbio com o meio mediatizado pelos esquemas de ação e pelos esquemas de representação, que nada mais são do que estruturas mentais das crianças.
Os esquemas de ação conhecidos como os primeiros reflexos das crianças ( sugar, pegar, equilibrar...), que elas têm e que ao longo do desenvolvimento, vão se aprimorando. Por outro lado, os esquemas de representação só tornam-se possíveis quando a criança adquiriu a função semiótica, ou seja, a capacidade se estabeleceu.
“ Para Piaget, ter assegurado o direito à educação, significa ter oportunidades de se desenvolver, tanto do ponto de vista intelectual, como social e moral.
Nesse sentido, a lógica, a moral, a linguagem e a compreensão das regras sociais não são inatas, ou seja, pré-formadas na criança, nem são impostas de fora para dentro, por pressão do meio. São construídas pelo indivíduo ao longo do processo de desenvolvimento, ou seja, ao longo da sucessão de estágios que se diferenciam um dos outros, por mudanças qualitativas. Mudanças essas que permitam não só a assimilação de conhecimentos, mas construções novas, através da acomodação, que servem de ponto de chegada por um lado e ponto de partida para novos conflitos cognitivos e novas adaptações. Assim, ocorre o processo de autonomia intelectual e moral.
Para melhor entendermos a teoria, é fundamental que entendamos o processo, assim:
1) Estágio sensório motor: iniciação das coordenações e relações de ordem entre as ações, início de diferenciação entre objeto/corpo;( mais ou menos aos 18 m), constituição da função simbólica. O campo da inteligência relacionado com ações concretas. ( 0-2 a).
2) Estágio pré-operatório: reprodução de imagens mentais, intuição, linguagem comunicativa egocêntrica, atividade simbólica pré-conceitual, descentração.( 2-6a)
3) Estágio operatório concreto: capacidade de classificação, seriação, agrupamento, reversibilidade, linguagem socializada, atividade concreta, pouca abstração. ( 7- 11a )
4) Estágio Formal: fase de transição para a abstração, hipotética, linguagem como suporte do pensamento conceitual. ( 11a em diante)
Essas são as contribuições mais significativas da concepção construtivista para o processo educacional. Nesse trabalho, apenas pincelou-se os aspectos e características mais relevantes, ficando em aberto para aprofundamento do tema, pois o objetivo não era esgotar o assunto.
Assim, considerando que esta pesquisa não finaliza nem aprofunda a contribuição de outros construtivistas, nem a prática do professor em sala de aula , pois nesse sentido, há vasta bibliografia sobre o tema.
Para chamarmos a atenção, indicamos que os estudos podem partir do ponto de vista da criança, isto é, como o sujeito aprende para que possamos chegar a como se ensina, numa visão de construção de conhecimentos visando alfabetização e o letramento.
Hoje, o maior desafio é alfabetizar letrando, uma vez que as políticas de educação (MEC) vêm lançando o desafio a todos os alfabetizadores , bem como proporcionando formação continuada, ressaltando mudanças consideráveis no que se referem a definição de conteúdos, valorizando a metodologia de trabalho e sugerindo (PCNs) novas estratégias pedagógicas, principalmente para o ensino da leitura.
Assim a participação das crianças em experiências variadas com leitura e escrita, informações, conhecimentos na interação com os diferentes gêneros textuais, a habilidade de codificação e decodificação da língua escrita, o conhecimento e reconhecimento dos processos mentais é que vão estabelecer a tradução da fala sonora para a forma gráfica, isso chama a atenção para consciência fonológica, bem como, para o aspecto semântico, léxico e pragmático da língua escrita.
Um dos principais fatores do fracasso na apropriação da alfabetização, são o fato da não definição de metas e objetivos ao longo dos Anos que compõem (o Ensino Fundamental hoje, com 9anos de duração), causando a perda da especificidade da alfabetização durante o processo de escolaridade e a não apropriação dos alunos desse objeto específico de conhecimentos, promovendo os baixos índices de alunos alfabetizados ao longo do espaço ( SOARES,2003)
Essa alfabetização, reafirma a autora, deveria ocorrer em tempo oportuno, isto é, no 1º Ano do aluno, aos seis anos garantindo que ele se alfabetize ficando os outros dois para o aprofundamento e autonomia na leitura e escrita (SOARES,2003).
Outra contribuição dos anos 80/90- foi a descoberta piagetiana sobre a gênese do conhecimento_ que aproveitado por FERREIRO e TEBEROSKI ,elas traçam uma caminhada considerando a natureza da escrita como sistema notacional e o processo de construção da criança sobre esse sistema de escrita alfabética. Esses estudos revolucionaram a alfabetização dando uma nova perspectiva no fazer pedagógico e estamos revendo as relações teórico-práticas no que se refere a métodos coerentes a essa concepção de alfabetização e letramento. As descobertas de Emília Ferreiro (1970) têm contribuído como referencial importante para reorganização da prática pedagógica, assim caracterizados:
1) Nível pré-silábico: as crianças não estabelecem relação entre a escrita e a pauta sonora das palavras;
2) Silábico: as crianças escrevem, para cada letra ou sílaba uma representação com uma letra, ( silábico quantitativo) , podendo esta ter correspondência sonora com a sílaba representada (silábico qualitativo);
3) Silábico alfabético: As crianças oscilam entre uma linha e outra dos dois níveis, percorrendo um caminho não paralelo no que se refere a leitura e escrita.
O silábico-alfabético pode ser considerado a transição com muitas trocas de letras (não domínio das correspondências regulares diretas do sistema de escrita) ; os alunos compreendem que as sílabas são compostas por unidades menores e seguem representando os fonemas, embora ainda troquem muitas letras;
4) Alfabético: com razoável domínio da correspondência grafofônica diretas, e regularidades contextuais e morfogramaticais.
Por outro lado, o enfoque teórico da consciência fonológica relacionam a capacidade de reflexão metalingüística da criança ao seu sucesso e insucesso na apropriação do código.
É necessário um aprofundamento das principais concepções para que se possa perceber as relações coerentes , as contradições, as consistências e com isso montar uma didática prática nessa linha de ação. Portanto o caminho fica em aberto e o desafio é para a continuidade de estudos, reflexões, constatações e aprofundamento dentro do tema vasto como esse que num trabalho, deixa muito a desejar.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
CARVALHO, Marlene. Alfabetizar e letrar: Um diálogo entre a teoria e a prática. Editora Vozes, RJ, 2007.
MATUÍ, Jiron. Construtivismo: teoria construtivista sócio-histórica aplicada ao ensino. Moderna, São Paulo, 1995.
WWW. Geocities.com/lucila_mariapesce/trabalho/PUC
FERREIRO, Emília. Com todas as letras. 2ª Ed. traduçãoMaria Zilda da Cunha Lopes; retradução e cotejo de textos Sandra Trabucco Valenzuela. São Paulo. Cortez Editora.1993.
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